Um problema chamado HUEHUEBR

Tirinha sobre brasileiros em jogos online

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Eu sempre fui um gamer mais atípico quando me comparava aos meus amigos. Enquanto a maioria já abraçava jogos online como Counter-Strike, os primeiros Battlefields e muitos outros, eu ainda estava afim de curtir tudo o que existia sozinho. Sempre fui fã de Half-Life e suas variantes – exceto o seu modo multiplayer. Sempre adorei jogos de guerra, mas minha franquia favorita durante anos foi Medal of Honor (que demorou pra trazer o multiplayer online para dentro do seu universo, tendo apenas um modo local para 2 jogadores em seus primórdios). Com isso me afastei cada vez mais de jogos multijogador online. Ainda preferia o bom e velho split-screen quando se tratava de jogar contra outras pessoas.

O que quero dizer com essa introdução é o fato de eu ter iniciado bastante tardiamente minhas aventuras online. Talvez o primeiro jogo que efetivamente joguei online de forma ativa tenha sido Battlefield 3 no Xbox 360. A partir daí já passei por alguns outros Battlefields, alguns Call of Duty, Left 4 Dead 2, Portal, FIFAs e mais uma porrada de jogos mais casuais, que não exigem tanto tempo e disposição do jogador. Confesso que passei a gostar bastante de me aventurar por essas bandas, o que me fez começar a pesquisar por coisas mais pesadas como World of Warcraft, MOBAs em geral e a nova mania do mundo gamer: jogos de mundo aberto focados na coleta de recursos, sobrevivência, construção, etc.

Este último me levou a dois jogos que mudaram completamente minha visão sobre jogos multiplayer e sobre o brasileiro como usuário. O primeiro jogo foi Minecraft: apesar de ser simples e não focar tanto assim nos modos online, é um jogo que abre horizontes a quem resolve experimentá-lo, mas que te aterroriza ao entrar em um dos infinitos servers com modificações (ou não) do jogo e dar de cara com toda a infantilidade que permeia esse universo. É um jogo desprezado por muita gente justamente por esse fator.

O segundo jogo é Rust. Ele me foi apresentado por um amigo e acabei comprando-o sem pretensão alguma e, pasmem, já estou com mais de 300 horas jogadas! Lógico que esse tempo nem é tanto assim, visto as horas que eu já gastei em Skyrim e The Witcher 3, mas nenhum desses dois jogos são exclusivamente online.

Rust é aquele jogo que te larga pelado no meio do nada, com apenas uma pedra e uma tocha e que já falei um pouco sobre ele nesse texto aqui. O foco aqui é aprender, evoluir tuas habilidades sem nunca esquecer que mesmo offline seu personagem pode ser atacado a qualquer momento. Isso tudo cria um ambiente único de tensão e ansiedade.

Então some o fator insegurança com o fator jogadores loucos para roubar seus itens coletados/criados com muito sacrifício e teremos o ambiente perfeito para um jogo com muita disputa entre os jogadores… mas em contrapartida é também um ambiente perfeito para você ser um babaca, e é justamente nesse ponto que eu queria chegar.

I REPORT U

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Jamais direi que todos os brasileiros encarnam o espírito HueHueBR, mas a maioria capricha e acha bonito tal rótulo. Inclusive dentro de Rust já vi diversos atos de “camaradagem” in-game por conta de alguma confusão ou mal entendido, inclusive comigo. Mas o povo capricha na zoeira, de destruir tudo sem nenhuma razão ou necessidade a ficar azucrinando todo mundo no áudio aberto do jogo.

Vou dar um exemplo prático disso: no próprio Rust um dos seus princípios é justamente atacar uns aos outros e tentar conseguir mais suprimentos para evoluir tuas construções e armamentos, então a chance de te atacarem e a necessidade de você atacar alguém são constantes.

Mas pelo menos o que vi acontecer de padrão em servers estrangeiros é que você entra, se necessário mata o dono da base (caso ele esteja acordado – vulgo online), pega tudo o que VOCÊ vai utilizar e vai embora. Já em servidores do Brasil (oficiais ou não) a maioria entra na sua base, rouba tudo o que pode, destrói o resto e de brinde bloqueia toda a construção, inutilizando a sua base. Parece um pouco de exagero tal reclamação? É que vocês não tem noção do tempo que leva para erguer outra base.

Mas vamos mudar de jogo e falar sobre Day Z, antigo mod de Arma III que acabou virando jogo próprio: os brasileiros adoram sair por aí bagunçando e atormentando todo mundo que encontram.

Você pode pensar “Ah, mas isso é coisa desses jogos de mundo aberto e sobrevivência”… Ledo engano! Vamos para FIFA: qualquer modo online do jogo tem jogadores que sabem se comportar e jogadores cuzões, do tipo que se estão perdendo uma partida começam a berrar na merda do microfone, encher o saco e, pasmem, te perseguir em outros jogos! Tudo isso pelo simples fato de estar perdendo a partida para você e ver se você não se cansa do maluco e abandona a partida, o que é bem ruim.

Exemplos temos de sobra! É só entrar em canais no YouTube com a levada de gameplays de zuera existentes para você ver a triste realidade e a quantidade de público que esse tipo de conteúdo atrai.

Infelizmente a zoeira não tem limites

Então, a partir desse raciocínio temos dois grandes problemas:

  • O jogador brasileiro, que atormenta e atazana a vida dos outros players (brasileiros ou não) e que acham lindo quando os ips brasileiros são banidos de determinados jogos;
  • O produtor de conteúdo que ao invés de melhorar a vida de todos os jogadores trazendo bons conteúdos, bem trabalhados e estruturados, preferem colocar como pauta para um vídeo “zoar infinitamente nos jogos online”.

No nosso primeiro problema apresentado, temos o inconveniente de vermos jogadores que não se enquadram no modo HUEHUEBR de ser, das mais diversas idades, passando por apuros in-game devido a “boa fama” que nós brasileiros levamos. Ser kickados de um server várias vezes e sofrer abusos dos outros jogadores são apenas alguns dos apuros pelos quais esses jogadores mais calmos acabam se sujeitando simplesmente por serem brasileiros. E isso é bem comum: eu por diversas vezes já fui kickado de servers por conta disso, seja no Rust, seja no Battlefield ou em qualquer outro jogo.

O motivo disso? Esses caras que se unem (muitos deles estrangeiros) já passaram por experiências negativas com jogadores brasileiros e, por sua vez, não estão dispostos a passar por isso novamente, então acabam atacando antes de saber se o coleguinha é de fato zoeiro ou não. Isso se chama defesa.

Não que eu não tenha visto casos de zoeira infinita e inconveniente criada por gringos, mas normalmente eles não duram muito caso não estejam em seus próprios servers, coisa que nem sempre é possível visto que muitos são garotos e garotas entre 10 e 15 anos.

O ciclo da zoeira

Já em nosso segundo problema, os dos produtores de conteúdo que incentivam esse comportamento tóxico, não é tanto a ação de estragar a diversão alheia que me incomoda e sim a apologia ao ato que isso gera. Vemos milhares e as vezes milhões de views em cada vídeo deles e imaginamos que a grande maioria dos que assistem acham aquilo “bonito” ou “legal” de se fazer. A tendência é que ao jogar online esse pessoal tenderá a repetir tais ações, criando um ciclo de zoeira e manchando ainda mais a reputação dos jogadores brasileiros no exterior.

Acreditem, um simples canal no YouTube pode sim influenciar desde crianças a até marmanjos a terem atitudes semelhantes. E o que dizer então da influência que eles terão em cima de novos produtores de conteúdo? Visto que esse tipo de conteúdo dá audiência, a tendência é eles repetirem, fazerem igual. Chega a ser insano o ciclo que acabamos adentrando por conta dessa situação!

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Eu gostaria de ver isso mudar, gostaria de não ver nossos ips bloqueados em jogos tão sensacionais e que talvez nunca pisem em terras brasileiras, gostaria de não ter de usar artifícios ilícitos para acessar esses servers, gostaria de ver conteúdo relevante sendo produzido e exibido e não apenas a apologia a uma marca que está ficando cada vez mais arraigada aos jogadores brasileiros.