Se você caiu nesse blog e nesse texto provavelmente você é um homem entre 15 e 45 anos, morador de algum canto da região sudeste. Se na sua timeline aparecem postagens como essa e você faz parte da demografia citada, muito provavelmente você já deve ter ido a diversos eventos de games e está meio saturado deles. Bom, este não é o meu caso!
Nascido e criado na periferia de Salvador e agora – que estou com uma renda razoável – morando no interior da Bahia, as oportunidades de participar de eventos geek em geral (games, anime, hqs e afins) não eram numerosas e mesmo as que apareciam eram muito distantes da minha casa ou extremamente caras para as minhas parcas condições. Eventos geek sempre foram um desejo inalcançável por seu caráter elitista – os nacionais feitos nos grandes centros da região Sudeste e os locais feitos para os raros gamers de alta classe de Salvador.
Então seguia na minha vida de pobre, soteropolitano e periférico consumidor de games entre a pirataria em hardwares muito defasados, jogos de luta em arcades nos ambientes mais adequados para crianças às 21h da noite (sqn), a instituição “casa de amigos” e a boa e velha pirataria. Quando ouvia falar de algum evento era a partir de alguma revista que algum amigo tinha perdida em algum lugar em outro continente. Via aquelas fileiras de stands, várias pessoas jogando, palestras, trailers de jogos novos, gráficos insanos, novas jogabilidades… tudo muito maravilhoso, lindo repleto de possibilidades e sonhos que eu jamais iria poder ver (pelo menos não até a pirataria alcançar a indústria).
Como bom filho da classe trabalhadora que ascendeu um pouquinho nos últimos anos, pude me dar ao luxo de participar das cadeias atuais de consumo de games. Comprei pela primeira vez (2015) um videogame na geração (Xbox One básico), pela primeira vez comprei jogos oficiais em formato físico e digital (nem sabia que isso existia até então) e pude acompanhar os jogos em seu lançamento (meu primeiro lançamento foi o Final Fantasy XV, por puro deslumbre dos FF do primeiro Playstation). Pude finalmente viver plenamente o hype que antes era uma fantasia vivida como o brilho das estrelas mortas que viajam anos luz para encontrar nossos olhos aqui na Terra.
Esse ano darei mais um passo nesse caminho de viver a experiência gamer com toda hype e glamour desse cenário: vou participar da Brasil Game Show 2023. Para alguém que nunca foi em um evento de jogos aparecer no maior do país vai ser intenso e pretendo viver por lá todos os dias. Na programação das “Talks” e nas “Meet and Greet” quero muito tirar uma foto com os atores do GTA V e dizer que eu conheci os atores que deram vida à Michael De Santa (Ned Luke que estará na BGS dia 12/10) e o Franklin Clinton (Shaw Fonteno também no dia 12) e matar meus alunos de inveja dizendo que conheci os caras do GTA V na vida real.
Dubladores e trilhas sonoras também mexem muito comigo. Ir e ouvir nas internets orquestras geek sempre me emocionavam mesmo antes de eu reaprender a chorar na terapia. Ouvir a voz de Charles Martinet dublando as falas do Mario ou o Jun Senoue falando sobre e tocando as trilhas do Sonic com certeza serão momentos que, se eu conseguir chegar para ver, ficaria emocionado e voltaria ao meu arquétipo de chorão só de ouvir aqueles sons ao vivo ali perto.
Conhecer mais sobre desenvolvimento de jogos AAA de grandes produtoras ou outros jogos de diversos escopos e temáticas na Avenida indie também me chama muita atenção. Tenho me envolvido com essa parte tem pouquíssimo tempo e poder conviver, conversar e jogar protótipos e jogos recém-lançados vai ser um privilégio muito grande. Conhecer mais desenvolvedores brasileiros, principalmente aqueles comprometidos em trazer a cultura e realidade brasileira para os games. O Brasil já produz muita coisa boa na área dos games e poder ver os lançamentos e as tendência do nosso desenvolvimento em primeira mão me entusiasma bastante.
Espero conhecer os produtores de Final Fantasy XVI, Naoki Yoshida e Koji Fox que estarão na BGS nos dias 13 e 14 de outubro simplesmente porque sou fã da série, apesar de ainda não ter jogado a última versão, é uma série que me formou como gamer e como apreciador de RPGs e de histórias. Como muitos que não tiveram acesso a cursos, aprendi inglês tentando decifrar os puzzles e explorando aqueles mundos fantásticos. Estar próximo de alguém que participou dessa série seria algo maravilhoso para mim.
Além de tudo isso, acho que eu nunca estive realmente em um lugar onde poderia viver e respirar games integralmente. Vivendo nas realidades descritas acima, a realidade é que minha paixão por games sempre foi algo meio solitário ou dividido com um conjunto de outros interesses. Só conheci pessoas que gostam e vivem de games há três anos desde que comecei a ser mais ativo no Twitter e ainda assim sempre no ambiente virtual – que é bom também, mas não tem a presença física e o contato que para mim é muito importante. Poder encontrar e jogar junto, presencialmente de amigos e amigas que só conheço por voz, vídeo ou avatares nas redes, produtores de conteúdo que me inspiraram a estar aqui me entusiasma. Até porque nada substitui o prazer e a rivalidade de estar no mesmo sofá que o camarada jogando joguinhos e se divertindo.
Novamente, tudo isso pode parecer esperança demais de gente que nunca foi em evento… e é mesmo! O que vocês esperam de alguém que não sentia nem o cheiro de nada disso podendo sentir essa realidade ali na altura do nariz? Nesse mundo da eterna desconfiança, sempre nutri a postura do realista esperançoso de Ariano Suassuna e, nesse caso, nutro também a esperança mobilizadora que tem me levado a apreciar de uma forma que nunca me foi possível acessar na vida.